terça-feira, 12 de março de 2013

74 - onírico

Não tenho muitas posses, mas tenho muitos sonhos.

As posses são úteis. Os sonhos não.

Um carro veloz tem muita utilidade. É capaz de percorrer longas distâncias em pouco tempo.
Uma televisão com uma grande tela é utilíssima. Transmite filmes, novelas, outras atrações e muito entretenimento.
Um sapato de couro de jacaré também tem sua utilidade. Combina finamente com ternos italianos.
Uma panela é útil para cozinhar.
Um martelo é útil para pregar.
Uma cadeira é útil para sentar.

Os sonhos são inúteis. Esses, tenho muitos.

Os sonhos não estão relacionados ao ter. Os meus sonhos são o que sou. Quando sonho, sou um sonhador - e, nada contra burocratas úteis calçando sapatos de couro de jacaré e trajando ternos italianos, eu sou muito mais os sonhadores.

Os sonhadores com seus sonhos sonham o sonho do mundo.

Enquanto Ghandi sonhou com a revolução através da verdade e da não violência, e Lennon sonhou com a paz na Terra, eu tenho sonhos mais modestos. Sonho em ser acordado por um passarinho. Ver o verde vencer o cinza. Sentir cheiro de terra molhada sempre que chove.

Sonho com as pessoas vendendo posses e comprando sonhos. Porque, quando compramos sonhos, somos, enfim, ricos.

As posses são úteis. Os sonhos, imortais.

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