quarta-feira, 15 de agosto de 2012

54 - Pirou

“Desce um combo de red e uma garrafa de tequila
Que hoje eu to pagando pra você e sua amiga
Aí as mina pira, e vai pirar
Quando eu falar que eu sou amigo do Neymar,
Que meu cartão é sem limite, hoje o bicho vai pegar
Aí as mina pira, e vai pirar..

Ai, ai, aiaiaiaiaiai ai, ai, aiaiaiaiaiai, ai, ai, ai
As mina pira no papai”

“As mina pira” da dupla Cacio e Marcos, sucesso nas baladas universitárias.



O horário certo eu não lembro, mas era por volta do meio-dia. O carro era uma saveiro branca, ano 2003 ou 2004. Foi em frente a uma escola municipal. Um adesivo gigantesco preenchia toda a traseira do automóvel, “as mina pira” dizia o plástico.

O que chamou a minha atenção foi a música que saía do poderoso sistema de som do carro, tal qual uma bomba, fazia o ar vibrar. Mas o que chamou mesmo a atenção não foi o volume, ensurdecedor, foi o conteúdo. A julgar pela quantidade de garotas que rodeavam o adolescente, 18 ou 19 anos, e seu veículo, acredito que o “combo” extravagância + mau gosto esteja fazendo sucesso pelas bandas de cá.

Confesso que tive vontade de ficar para observar se a música estava no “repeat”. Achei que seria muita coincidência eu estar passando bem na hora em que tocava exatamente o refrão que havia sido escolhido para adornar a lataria do carro. O medo de acabar também “pirando” foi maior, e segui meu caminho.

Essa música é o reflexo de uma juventude carente de idéias e referências, uma juventude cega, surda e, principalmente, muda.

Ao considerar que há alguns anos a juventude paquerava ao som de Roda Viva do Chico Buarque, eu chego a uma conclusão: não foram só as “mina” que piraram.


“A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva 
E carrega a roseira pra lá..."

"Roda Viva" de Chico Buarque, 3ª colocada no Festival da Música Brasileira em 1967.





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