terça-feira, 7 de agosto de 2012

52 - Produtos!

Tenho certeza de que vivo em um mundo injusto. Todas as certezas absolutas não valem absolutamente nada em um mundo péssimo, tenho certeza. Mas, mesmo assim, me arrisco.

O mundo é cruel, vil, invejoso, amargo, hipócrita, mentiroso, frouxo, doente, covarde, bandido, inescrupuloso. Sim, péssimo.

Toda tecnologia do mundo está disponível, terabytes de informação viajando na velocidade da luz e não somos capazes de discutir os problemas mais fundamentais da nossa existência.Em algum momento o mundo desistiu de pensar.

Nossas cabeças servem cada vez mais de suporte para os óculos da moda, os chapéus da estação e, cada vez menos, para refletir, questionar, criticar.

Nos tornamos tão incapazes de lidar com interrogações que apelamos às exclamações químicas. Haja prozac para um mundo tão deprimido, tão deprimente.

Como seres humanos levamos milhares de anos para passarmos de coletores a produtores, mais um bocado e nos tornamos consumidores. Hoje somos meros produtos. Nossa vitrine é o facebook, nosso corpo o cabide. O slogan veio pronto.

Nossa condição de "produto" não nos permite vacilar em um mercado competitivo, o risco de ficar obsoleto e esquecido em uma prateleira de liquidação soa como pesadelo para maioria de nós. Assim, somos todos ao mesmo tempo em que não somos ninguém.

O filósofo John Locke defendeu a tese de que, ao nascer, somos uma "folha em branco", o que escrevíamos nessa folha, através das experiências, formaria o nosso "eu".

Desistimos de escrever.

Como produtos, aceitamos que nossa folha seja escrita, apagada, reescrita, rabiscada; tudo de acordo com a ilógica lógica de um mercado que produz em série.

As mulheres se preocupam com botox e com o tamanho dos seios. Os homens com as etiquetas de suas blusas. Tudo isso ao mesmo tempo em que o modelo dos carros que dirigimos pode dizer algo sobre quem somos.

Creio que essa preocupação em se vender afastou o ser humano de suas questões mais relevantes, dos problemas fundamentais. Não nos perguntamos o que somos, queremos apenas saber o que temos. Nos matamos em guerras que servem apenas para... (?!?!?!) Para que servem as guerras mesmo?!?

O ato mais revolucionário que um ser humano pode ter é reaver para si o pensamento crítico.

Não precisamos ter pressa em mudar o mundo mas, ao menos, não podemos ter dúvida, precisamos construir um mundo menos descartável.

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