terça-feira, 20 de dezembro de 2011

45 - E a Responsabilidade?

Ernesto é um sujeito bacana. Se alimenta bem, faz exercícios físicos diários, bebe moderadamente, trabalha, estuda... enfim, um sujeito bacana.

O único probleminha de Ernesto é que a namorada dele, Maria, está grávida e mora em Belo Horizonte, uma cidade quase 800 km de distância de Bauru onde Ernesto é servidor público.

Ernesto visita Maria ao menos uma vez por mês. Ele acha que é importante a presença física do pai durante a gravidez, e não mede esforços para pegar a estrada e visitar a família que está se formando.

Mas Ernesto anda meio chateado. Não vai conseguir ninguém para cobrir a sua ausência nesse período de festas de natal. A saudade e a sensação de impotência não lhe fazem bem. Anda chateado, preocupado, com sentimentos ruins. Às vezes até demora pra pegar no sono, pensando no garotinho que não tarda a nascer.

Foi então que alguns amigos lhe dizsseram para consultar um psiquiatra pois talvez ele pudesse conseguir um atestado médico e ganhar alguns dias longe do trabalho. Só a ideia de poder ver sua família, abraçar Maria, sentir os chutinhos do seu filho, deixou Ernesto animado. Era um novo homem.

No dia marcado, Ernesto estava lá. Relatou todos os sintomas e já deu logo as causas. O médico não titubeou, sacou o bloco e receitou dois remédios a Ernesto. Sonebom, um tarja preta e Fluoxetina que é mais conhecida pelo nome comercial, o Prozac.

Ernesto ficou um tanto perplexo quando viu que a consulta havia acabado e falou sobre o atestado. O médico mencionou um certo "stress ambiental" e disse que atestado não adiantaria, e sim os remédios. Que em 6 semanas ele voltasse para que as doses fossem acertadas.

Um detalhe importantíssimo, o médico em momento algum falou algo sobre os remédios. Limitou-se a dizer que os remédios iriam ajuda-lo a dormir e a ficar tranquilo. Não mencionou nenhum efeito colateral.

Quando chegou em casa, Ernesto parecia ainda pior do que estava nos dias anteriores. O médico havia o entupido de remédios e ele não ia ver a família.

Mas quando eu disse, no começo, que Ernesto era um cara bacana, que se alimentava bem, eu queria dizer que ele realmente se preocupa com a alimentação. Ernesto não ia colocar qualquer coisa goela abaixo sem antes se informar acerca dos efeitos colaterais dos remédios que o doutor queria lhe empurrar.

Depois da pesquisa ele ficou atordoado. Descobriu que entrou no consultório chateado e poderia sair dele dependente de pesadas drogas químicas receitadas por um profissional que deveria ter o compromisso ético de zelar por sua saúde.

As bulas de ambos remédios são assustadoras.

O Sonebom, que de bom só tem o sone, é uma droga para insônia que, de cara, a bula adverte: é capaz de causar dependência física ou psíquica. E de acordo com a duração do tratamento e da dose o risco de dependência pode ainda aumentar. Se não fosse o bastante, a bula ainda adverte quanto a reações psiquiátricas como inquietude, agitação, irritabilidade, agressividade, ilusão, raiva, pesadelos, alucinações, psicoses entre outros. A bula ainda lembra que os usuários do remédio (?!?!?) podem ter negativamente afetadas as habilidades de dirigir e operar máquinas. E isso são só as "advertências". Ainda têm os efeitos colaterais que são: sonolência, hipotonia muscular, sensação de embriaguez, superexcitação e síndrome de confusão onírica. Além disso o uso ainda pode causar erupção cutânea, vômitos e convulsões e, para finalizar, a supressão da medicação pode precipitar a síndrome da abstinência.

Já a Fluoxetina/ Prozac é um remédio para depressão que, para ficar apenas nos efeitos colaterais comumente observados, tem como "inconvenientes" : ansiedade, nervosismo, insônia, sonolência, fadiga, sudorese, problemas gastrintetinais, náusea, diarreia, tontura. A bula ainda lembra que de 4.000 pacientes, 15% tiveram que interromper o uso do remédio por terem apresentado reações severas. Os estudos não dizem que a droga vicia, mas também não dizem que não vicia. Para ser exato, não dizem nada. A bula diz ainda que pacientes sob tratamento de fluoxetina desenvolveram uma grave doença cutânea sistêmica, além de admitir existência de pacientes que morreram com o uso da droga.

A simples saudade de Ernesto foi diagnosticada como doença grave e, para o que poderia ser curado com um abraço, foram receitadas drogas pesadíssimas que causam dependência e até matam. O eufemismo do "uso controlado" dessas substâncias não altera a inexorável realidade de que esse remédios, em hipótese alguma, vão curar a saudade que Ernesto está de Maria.

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O Ernesto mora comigo.

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Queria ter uma certa ingenuidade para acreditar que a maioria dos psiquiatras não age assim. Não tenho.

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A consulta custou R$ 220,00.

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It's all about the money.

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