- Tá, mas eu só queria saber o porquê. Por quê?
- Porque não. Pronto. Porque não.
- Mas e desde quando isso é resposta? Depois de um ano de
idade esse tipo de resposta não vale mais.
- Ah, pera aí, com um ano de idade a criança nem fala ainda.
- Sei lá, depois dos três anos.
- Com três anos nem se usa da argum...
- Não, para com isso. A gente não tá conversando sobre isso.
O assunto é outro, não tenta desvirtuar.
- Bom, mas por mim a gente pode mudar de assunto, pois esse
está decidido. É não e pronto. Ponto.
- Mas pra ti é um problema a gente falar sobre isso?
Sinceramente eu acho que se é um problema pra ti falares sobre isso é porque
tem um problema muito maior por trás.
- Não, não é problema nenhum pra eu falar sobre isso, mas a
resposta não vai mudar; e se a resposta não vai mudar, não tem o que conversar.
- Mas aí é que tá, a gente não tá discutindo pra resposta
mudar, eu só estou querendo entender o motivo pelo qual a resposta não vai
mudar. Tem que ter um motivo. Senão eu vou achar que é um capricho teu só pra
me sacanear.
- Não tem nada de capricho, é só uma questão de... Uma
questão de...
- Aí! Tá vendo? Já tá gaguejando. Não gagueja, quero ver.
Responde, sem gaguejar.
- Não estou gaguejando.
- A gente namora há cinco anos. Eu sempre respeitei, mas
agora a gente chegou num momento quê...
- Que o quê?
- A gente não está namorando só de sacanagem. Provavelmente
a gente vai morar junto, viver junto, ficar juntos por...
- Casar? A gente vai
casar?
- É. Pode ser, isso aí. E se a gente vai, esse tipo de
situação tem que ser resolvido. E a gente resolve assim, conversando.
- A gente vai o quê?
- Isso. Isso que você falou.
- Mas fala você.
- Ahh, para. Isso aí.
- Tu tem dificuldade é? Fala. Se tu não falar com todas as
letras não tem nem mais assunto.
- Casar. Tá bom assim? A gente vai casar, e, se casados
formos, a gente tem que ter essa situação muito bem resolvida.
- Mas já está resolvida. Na verdade, a gente já falou muito
sobre isso. Tu sempre vens com esse papo furado.
- Não, a gente não fala. Eu peço e você diz que não. Resume-se
a isso.
- Dói. É porque dói.
- Tá bom. Dói. Mas que eu saiba você nunca deu.
- Nunca dei.
- Então tem que experimentar pra saber se dói ou não.
- Eu não disse que nunca experimentei, eu disse que nunca
dei.
- Ah não. Como assim? Já experimentou, mas nunca deu? Isso
não existe. Tu deu pra quem?
- Não, nunca dei.
- E que papo é esse de “já experimentou”? Porque, tecnicamente,
se um pau já entrou ali, você já deu.
- Entrou, mas foi sem querer. E se foi sem querer não fui eu
quem dei. E se queres saber, doeu e doeu
muito.
- Mas como que entrou? Estavas dormindo?
- Ah é, estava, estava dormindo. Lógico que não. Entrou sem querer.
- Então tá aí. Explicado o motivo do teu trauma. Entrou sem
tu estares com vontade, sem estar pronta. Sem estar preparada. Sem estar
relaxada. É isso. Na verdade pode-se dizer que você foi arrombada.
- O que é isso? Então tu queres comer o meu cu e vem dizer
que eu sou arrombada?
- Fala baixo.
- Fala baixo não. Sério, era só o que me faltava, eu venho
contigo em um puta restaurante chique, a gente tomando um vinho e, além de só
querer falar de cu, tu ainda me chama de arrombada.
- Amor, não viaja. Tu sabes que eu te amo. Eu jamais falaria
isso. O que eu estou querendo dizer é que o que aconteceu, é como se fosse o
arrombamento de uma porta. Sabe, se eu quiser entrar em uma porta fechada eu
tenho que colocar a chave na fechadura, girar com calma, colocar a mão na
maçaneta, abrir a porta e, só então, entrar. Se eu chego simplesmente passando
por cima da porta, com tudo, a porta vai cair, estourar, arrombar. Tu consegues
observar como comer um cu, e entrar em uma porta podem ser situações
semelhantes? E digo mais, tem também o lance do...
- Não. Tu não vai me convencer.
- Quando tu fazes cocô, dói?
- Lógico que não.
- E eu duvido que tu nunca tenha feito um cocô mais grosso
que o meu pau.
- Ahhh, não. Eu não acredito!!!
- É sério, é só pra ilustrar que o cu, diametralmente
falando, fisiologicamente falando, também está preparado. É só fazer com calma.
Tu não vês tanta atriz pornô ganhando a vida dando o cu? Tem que parar com esse
lance de achar que o cu é algo pejorativo. Tem filme que a atriz da o cu pra
dois caras ao mesmo tempo.
- Ao mesmo tempo?
- É, ao mesmo tempo.
- Montagem.
- Que montagem? Tá de sacanagem? Como que o cara vai fazer
montagem de dois paus entrando em um cu?
- Como não? Os caras explodem o mundo inteiro no cinema,
cortam a cabeça, viajam pra marte e não vão conseguir efeitos especiais para
enfiar dois paus em um cu? Isso é ridículo de fácil.
- Não viaja, filme pornô tem orçamento muito baixo e...
Espera aí, não vamos sair do foco. Foda-se se é efeito o não. Fodam-se as
atrizes pornô, foda-se o Spielberg. O papo aqui é o seu cu e o meu pau. O seu
cu no meu pau. Isso não pode ser tabu. Tem que estar no dia a dia do casal, tem
que...
- Mas nem que a vaca tussa que tu vai comer o meu cu todo
dia. Mas nem sonha com uma coisa dessas.
- Eu não disse que quero comer o teu cu todo dia. A única
coisa que eu quero é fazer uma vez. Uma vezinha só. Depois de fazer uma vez, tu
diz se gosta ou não e daí a gente segue essa conversa.
- Não.
- No meu aniversário?
- Não.
- Lua de mel?
- Ah, mas quem disse que não ia querer lua de mel?
- Então tá combinado. A gente faz uma lua de mel e lá tu dá
pra mim.
- ...
- Combinado.
- ...
- Sério. Combinado.
- Mas por que tu queres fazer uma coisa que eu não quero.
- Não queres?!?!?! Mas e quando eu coloco a língua tu não
gosta?
- Tá, mas agora tu queres comparar o teu pau com a tua língua?
-Não, eu não estou comparando. Mas é para entenderes que se
tu gosta de uma linguada ali é porque tu vai gostar mais ainda quando for o
pau. Tem terminações nervosas. É que nem na bucet...
- Ai não, buceta não.
- Eu ia falar bucetinha.
- Fala baixo.
- Bucetinha pode?
- Não.
- Tá, é que nem na perereca. Tu gosta quando eu coloco a
língua, mas o bom mesmo é quando o pau entra.
- Ai, que vulgar.
- Ah, espera aí. Eu estou falando um assunto muito sério com
a minha namorada. Não queres que eu fale igual professor primário. Pênis,
vagina, orifício, cavidade...
- Mas então fala baixo.
- Imagina, se Deus é tão perfeito, por que tu achas que ele
ia fazer o cu milimétricamente do tamanho ideal para receber um pau? Porque
Deus não ia imaginar, que tão pertinho um do outro o cara não ia ter a ideia.
Se o cu não fosse pra comer, Deus faria, sei lá, o cu muito grande. Ou muito
pequeno. Ou bem longe da buceta, sei lá.
- Ué, tu não é um ateu tão convicto.
- Tá, esquece Deus. Sendo a evolução, tão perfeita... Deve
ser isso. Ao longo da evolução da humanidade só restaram aquelas mulheres que
tinham o cu mais ou menos do diâmetro do pau dos homens. Só os casais que
conjugavam dos prazeres do sexo anal que foram considerados aptos para evoluir.
- Quanta besteira.
- Tá bom. Mas então, na lua de mel?
- Agora tu só quer lua de mel pra ficar comendo o meu cu.
- Primeiro, eu não quero “ficar comendo o teu cu”. Quero
comer uma vez, depois o papo é outro.
- Não.
- O Sérgio, sabe o Sérgio? A namorada dele disse que ia dar
na lua de mel, e no primeiro aniversário de namoro ela deu.
- Come o cu dela então.
- ...
- Come o cu dela então.
- ...
- Olha, o Sergio é o Sérgio, tu és tu, e o cu da namorada do
Sérgio é o cu da namorada do Sérgio.
- Não. Sério, é um absurdo. Tu sendo minha esposa, e eu com
a frustração sexual de nunca ter comido um cu. Aposto que isso não é saudável.
Olha Freud, pode ver lá. Homem com frustração de não ter comido um cu só pode
dar merda.
- Acho que tu que tens que procurar Freud. Essa tua fixação
não é normal.
- É serio, imagina eu andando de mão dada contigo na rua e o
cara apontando: olha lá aquela garota, eu já comi o cu. E o babacão do namorado
aqui batendo punheta pensando no teu cu.
- Ninguém vai dizer isso porque eu nunca dei.
- Ah tá. E o cara que meteu sem querer? Homem não tem dessa
não. O pau entrou no cu, mesmo sem querer já é um cuzinho na conta.
- É isso que tu queres né? Colocar um cuzinho na conta.
- Não. Eu não quero colocar mais um cuzinho na conta, eu
quero colocar um cuzinho na conta...
- Ui, que nojo. Duvido que tu nunca tenha feito.
- Não fiz. Nunca fiz. E se você não colaborar eu nunca vou fazer e vou ser frustrado pro resto da vida. Capaz de dar uma depressão bem grande e daí, nem se tu quiseres dar, eu vou conseguir.
- Ahh, que bom. Porque eu nunca, nunca, nunca vou querer dar. Logo, tu não precisas te preocupar com isso.
- Tu não entendes. Eu só quero ter o prazer de
desfrutar esse momento contigo. É como se fosse a minha virgindade, sabe? Um momento bonito, só nosso. E tenho certeza que tu vai ter prazer também.
- Como tu sabes que eu vou ter prazer, tu já deu o teu?
- Tá maluca? Não tu só podes estar de sacanagem comigo. Eu não
sei se você percebeu, mas eu estou
falando sério contigo.
- Então tá, então eu vou te dizer o que eu acho. Se é pra
falar sério, vamos falar sério. Acho que essa fixação por cu é vontade tua de
dar o teu. Tu não estava falando em Freud? Então...
- ...
- Que foi? Não era pra falar sério.
- Olha, eu acho uma infantilidade tua isso que você tá
fazendo. Eu sou viado então porque quero comer o teu cu?
- Não é por isso, é a fixação.
- AHHHH TÁ! Eu sempre quis comer o teu cu. A primeira vez
que a gente transou eu quis, a segunda vez que a gente transou eu quis. TODAS
as vezes que a gente transou, eu quis. Eu bato punheta esmagando o meu pau, com
a mão bem fechadinha, imaginando que to comendo teu cu. Faz cinco anos que eu
quero isso. E agora tu vens me dizer que eu to querendo dar a bunda? Isso só
pode ser sacanagem.
- Esmagando a mão?
- É.
- Como assim?
- Eu quando seguro o pau, aperto bem. Deixo a mão bem
apertada.
- ...
- Pra simular o cu, bem apertadinho.
- É por isso?
- Isso o quê?
- Tu achas que eu não sou apertadinha?
- Lógico que não. Não é isso amor. Eu adoro a tua buce...
- Buceta não!
- ... a tua pererequinha. Eu adoro ela, eu me delicio nela.
Acho ela uma delícia, cheirosa, gostosa, molhada. Eu amo ela, toda vez que vejo
da vontade de cheirar, lamber, tocar, esfregar o p...
- Ai... Para que eu vou ficar com vontade.
- Mas eu também tenho vontade de lamber, tocar, cheirar o
teu cu.
- Ahh, já broxei. Lamber cu, cheirar cu? Isso não é nada
excitante. Sei lá, cu me lembra cocô. Remete a sujeira.
- Bom, só se tu não limpa direito o teu. Daí realmente eu
não posso fazer nada.
- Nem vem, eu limpo muito bem. Se eu não limpasse tu não ia
adorar lamber.
- E se dar o cu não fosse bom, tu não ia adorar que eu lambesse.
-COF! COF!
Era o garçom, dando uma tossida constrangida. Quando o casal
percebeu, só restavam eles no restaurante.
- É que a cozinha está fechando, vocês querem fazer mais
algum pedido?
- Não, não. Obrigado. Pode trazer a conta.
- Pois não.
O garçom afastou-se, e o casal olhou-se. Sorriram. Não
falaram nada, mas pensaram juntos. Será que estavam os garçons estavam
escutando a conversa?
Pagaram a conta e foram embora. Ele na certeza de que, se
ouviram o papo, os garçons torciam por ele. Ela na certeza de que não iria dar
o cu. Não aquela noite.
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