As feministas e as simpatizantes ficaram irritadinhas com uma reportagem de uma revista que apontava Marcela Temer como "bela, recatada e do lar".
Eu não entendi o porquê do barulho.
A moça é realmente bela, muito bonita mesmo, não há o que se discutir quanto a isso.
Ela também parece ser recatada, o contrário de exibida. Nos 6 anos em que Michel Temer exerceu o papel de vice-presidente e agora, que é o presidente em exercício, pouco se ouviu falar nela.
Em uma realidade em que qualquer anônimo escancara sua intimidade com qualquer estranho em troca de meia duzia de 'joinhas', o fato de ela ser recatada me parece uma virtude digna de nota.
E se ela é 'do lar', significa que não é 'da rua'. Acredito que qualquer homem admira uma mulher que se dedique a própria família, aos filhos e ao marido. qual o problema disso?
A gente anda tão acostumado com 'vadias' exibidas que uma bela moça recatada parece nos chocar.
Estranhos tempos os nossos.
sábado, 4 de junho de 2016
112
Um dia a dúvida encontrou com a certeza e perguntou a ela:
- Quem é você?
E a certeza respondeu:
- Eu sou a certeza. E você?
E a dúvida respondeu:
- Não sei.
- Quem é você?
E a certeza respondeu:
- Eu sou a certeza. E você?
E a dúvida respondeu:
- Não sei.
111
Cruzei a esquina e lá estava o Instagram. Fingi que não vi.
Atravessei a rua e vi o Facebook. Faz tempo que não falo mais com ele, sequer me reconheceu.
Quando entrei no carro, vi que o Snapchat papeava por ali. Nunca fomos apresentados, não quis mendigar atenção.
Atravessei a rua e vi o Facebook. Faz tempo que não falo mais com ele, sequer me reconheceu.
Quando entrei no carro, vi que o Snapchat papeava por ali. Nunca fomos apresentados, não quis mendigar atenção.
109
As ingratidões do mundo me levaram a uma balada sertaneja. Em determinado momento dois cretinos se revezavam a cantar:
- Eu vou 'bebê', eu vou 'bebê' até 'morrê'.
Já morreu, apenas não percebeu.
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
108 - Não tem nada mais interessante
Acompanho as redes sociais - Instagram, Snapchat, Facebook - de maneira incidental. Namorada, mãe, irmã... Elas estão sempre ligadas nas redes.
Tudo isso para dizer que conheci a Gabriela Pugliesi. Fala-se muito dela. Comenta-se a respeito de seus namorados, de sua barriga, dos seus jabás, sobre quase tudo. Mas nunca vi comentarem sobre nada interessante que tenha dito.
Sempre a vejo de biquini, a maioria das vezes na academia. Hoje vejo a chamada na abertura do Globo.com: "Prestes a completar 30, Pugliesi mostra corpo sarado em biquini da moda". Essa manchete, sem tirar sequer uma palavra, caberia perfeitamente em um esquete irônico ou sarcástico sobre a futilidade da dita cuja. Mas é vida real.
E aí está ela, chegando aos 30 tendo que mostrar o corpo sarado em um biquini da moda. Porque não tem nada a dizer.
segunda-feira, 25 de maio de 2015
107
Botox é o artifício da mulher covarde,
que pouco tem a oferecer além da beleza.
Mulher que se garante, passa longe do botox.
que pouco tem a oferecer além da beleza.
Mulher que se garante, passa longe do botox.
quinta-feira, 23 de abril de 2015
106
O vizinho veio reclamar que a música estava alta, pediu pra baixar.
Pedi desculpa, fechei a porta e me questionei os motivos de não ter mandado o vizinho tomar no olho do cu. Excesso de civilidade.
Estava ouvindo um show gravado em 1957 no Carnegie Hall em Nova York. O encontro entre um dos maiores pianistas de todos os tempos, Thelonious Monk, com seu quarteto, e o maior saxofonistas de todos os tempos, John Coltrane.
A melodia causou ruído na novela.
Vou colocar um fone de ouvido a próxima vez que ouvir um pancadão sertanejo vindo do lado de lá.
Pedi desculpa, fechei a porta e me questionei os motivos de não ter mandado o vizinho tomar no olho do cu. Excesso de civilidade.
Estava ouvindo um show gravado em 1957 no Carnegie Hall em Nova York. O encontro entre um dos maiores pianistas de todos os tempos, Thelonious Monk, com seu quarteto, e o maior saxofonistas de todos os tempos, John Coltrane.
A melodia causou ruído na novela.
Vou colocar um fone de ouvido a próxima vez que ouvir um pancadão sertanejo vindo do lado de lá.
quinta-feira, 26 de março de 2015
quarta-feira, 25 de março de 2015
104 - esquece
Era um pacto silencioso, tratado com ele mesmo. Só ficaria com outra se fosse mais feia do que ela. Mais gorda, mais nariguda, a pele marcada pela acne... Não poderia haver dúvidas, não havia espaço pro "será?". Ou era mais feia e estava apta, ou não existiria a possibilidade do envolvimento carnal. As peles não deveriam se tocar. Sequer haveria a possibilidade do envolvimento, qualquer envolvimento. O mero envolvimento como ponto final. Não haveria o porquê do envolvimento como uma fêmea, se o ponto final não fosse a conjunção carnal.
Esse tipo de envolvimento era, para ele, meramente fisiológico, como urinar ou suar. Era como se fosse algo virtual, mas real. Solitário, mas na companhia de alguém.
Não passava pela cabeça dele sacanear a mulher que amava, a futura mãe de seus filhos. Se ele não fosse fiel a ela, a quem seria?
Mas houve o dia, aconteceu. Ele sentiu pena. Tão acostumado a sentir tesão nessas ocasiões - ou vontade de sumir, dependendo do momento -, ele sentiu pena. Não era apego, não era carinho, não era vontade, não era "quero mais". Era a mais pura e triste pena. Mas, sem dúvida, era um sentimento que não deveria estar ali.
Quase que automaticamente, pensou que talvez nem fosse mais feia do que ela.
Isso o deixou mal. Era hora de reassumir o controle da situação. Vestiu a roupa, escovou bem os dentes - o seu ritual de purificação - e foi indo embora, deixando o dinheiro do táxi sobre a caixa de um monstruoso vibrador e a espera dos impropérios libertadores. Era quando xingado que se sentia bem. O grito de canalha escancarava que ele era homem de uma mulher só, apenas ela era digna de seu amor e de sua retidão moral.
Mas dessa vez não houve nada. Nem uma sílaba. Sequer gemido, vogal ou onomatopeia. Apenas o silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. E com o silêncio ele não podia.
Olhou-a de novo. O queixo entre os joelhos. Fez a imagem de uma palestina em Gaza. Nua, a pele branca e os olhos azuis. Os seios naturais, firmes e rosados, tiravam o foco da barriguinha firme e saliente, que bem combinavam com suas bochechinhas rosadas e quentes.
Olhou-a de novo.
O pacto fora rompido, e ele não percebeu.
Caiu na besteira de perguntar, e foi o que traçou o destino dos dois, pelo resto das suas vidas.
- O que foi?
- Nada, esquece.
Um homem nunca esquece.
Esse tipo de envolvimento era, para ele, meramente fisiológico, como urinar ou suar. Era como se fosse algo virtual, mas real. Solitário, mas na companhia de alguém.
Não passava pela cabeça dele sacanear a mulher que amava, a futura mãe de seus filhos. Se ele não fosse fiel a ela, a quem seria?
Mas houve o dia, aconteceu. Ele sentiu pena. Tão acostumado a sentir tesão nessas ocasiões - ou vontade de sumir, dependendo do momento -, ele sentiu pena. Não era apego, não era carinho, não era vontade, não era "quero mais". Era a mais pura e triste pena. Mas, sem dúvida, era um sentimento que não deveria estar ali.
Quase que automaticamente, pensou que talvez nem fosse mais feia do que ela.
Isso o deixou mal. Era hora de reassumir o controle da situação. Vestiu a roupa, escovou bem os dentes - o seu ritual de purificação - e foi indo embora, deixando o dinheiro do táxi sobre a caixa de um monstruoso vibrador e a espera dos impropérios libertadores. Era quando xingado que se sentia bem. O grito de canalha escancarava que ele era homem de uma mulher só, apenas ela era digna de seu amor e de sua retidão moral.
Mas dessa vez não houve nada. Nem uma sílaba. Sequer gemido, vogal ou onomatopeia. Apenas o silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. E com o silêncio ele não podia.
Olhou-a de novo. O queixo entre os joelhos. Fez a imagem de uma palestina em Gaza. Nua, a pele branca e os olhos azuis. Os seios naturais, firmes e rosados, tiravam o foco da barriguinha firme e saliente, que bem combinavam com suas bochechinhas rosadas e quentes.
Olhou-a de novo.
O pacto fora rompido, e ele não percebeu.
Caiu na besteira de perguntar, e foi o que traçou o destino dos dois, pelo resto das suas vidas.
- O que foi?
- Nada, esquece.
Um homem nunca esquece.
segunda-feira, 16 de março de 2015
103
- Ei, olha la!
- Onde?
- Ali!
- O quê?
- A Grazi!
- Que Grazi?
- A Massafera!
- Que massa, fera.
- Onde?
- Ali!
- O quê?
- A Grazi!
- Que Grazi?
- A Massafera!
- Que massa, fera.
99
Se der chuva vou pro bar
se der sol vou pro mar
se der preguiça vou roncar
se der certo, vou te amar
se der sol vou pro mar
se der preguiça vou roncar
se der certo, vou te amar
sábado, 27 de setembro de 2014
sábado, 13 de setembro de 2014
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
85 - Televisão
"A televisao/ me deixou burro/ muito burro demais"
TITÃS
(antes de verem muita televisão)
Conversava com um amigo:
- Eu não assisto televisão. Não há nada que preste, em canal nenhum.
- Eu também não. Na verdade, a única coisa que vejo é o Jornal Nacional.
A vontade era de dizer:
- Mas pera aí meu amigo. Se eu fosse te aconselhar a não assistir um programa só, esse seria o Jornal Nacional. Assiste o Faustão, a novela ou o Fantástico. Sei lá, o Esporte Espetacular, o Ratinho, o Raul Gil. Mas não o Jornal Nacional. Esses você vê pra rir, pra chorar, pra ficar com raiva... Mas o Jornal Nacional você vê, teoricamente, pra se informar. E a última coisa que uma pessoa que vê o Jornal Nacional está, é informada. Na verdade, o contrário, ela está desinformada.
O JN passa entre a novela das 7 e a novela das 8. Esse é o público alvo do Jornal Nacional.
Mas eu falei apenas:
- Hummmmmm.
domingo, 19 de maio de 2013
84 - Mais do mesmo. De novo.
Vai começar mais uma novela das 8 na rede Globo. Eu nao sabia que a outra tinha acabado, mas nao faz a menor diferença.
Novela as pessoas assistem por ser novela. Nao o fazem pelo roteiro, nao o fazem pelas atuaçoes, nao o fazem pela fotografia. Assistem porque naquele momento não terão nada pra fazer e estarão na sala sentados no sofá com a TV ligada.
A audiência das novelas vem caindo ano após ano. Em 1986 a novela Roque Santeiro obteve 76 pontos de audiência segundo o IBOPE - hoje cada ponto equivale a 62.000 residencias sintonizadas. Em 2013 a novela Salve Jorge terminou com média de 35 pontos.
Acredito que a audiência não tenha se esvaído pela falta de qualidade dos folhetins - a falta da qualidade é uma característica do gênero. A queda se dá por conta das outras mídias, onipresentes nos dias de hoje. Além da tv a cabo, há a internet.
Eis que surge a nova novela, Amor a Vida. Por curiosidade acabei lendo a sinopse. Antonio Fagundes fará um bom moço pela centésima vez e será casado com Susana Vieira, uma mãe meio desequilibrada pela milésima vez. São eles, mas poderia ser o Tony Ramos com a Renata Sorrah, o Tarcísio Meira com a Renata Sorrah ou quaisquer outros, tanto faz. A história é mais ou menos assim:
A mocinha (interpretada por uma quase senhora de 30 anos) passou no vestibular e vai entrar na universidade. Para comemorar a família vai passear em Machu Pichu (todas novelas das 8 tem seus capítulos iniciais no exterior, antigamente era Europa. A crise os trouxe à América Latina). A mocinha é rejeitada pela mãe que só tem olhos para o filho, homossexual enrustido (ser homossexual é década de 10 total). Em Machu Pichu a mocinha conhece um doidão riponga e se apaixona. Engravida, nasce o filho. O irmão homossexual que detesta a mocinha, no caso sua irma, resolve sequestrar o sobrinho. Como o faz apenas por maldade e não para pedir um resgate, joga o bebê no lixo. Um desavisado encontra o bebê na lata de lixo e resolve adotá-la. Anos mais tarde a garotinha que foi reciclada pelo desavisado, por uma grande ironia do destino, aproxima-se de sua verdadeira mãe, que se torna sua pediatra.
Mais do mesmo. Uma história sem pé nem cabeça que só com muita "suspensão da descrença" irá colar.
Mas, como acredito que passando chuvisco entre 20h e 21h a audiência não baixaria dos 30 pontos, essa novela tem tudo para ser um sucesso. Ou não.
Novela as pessoas assistem por ser novela. Nao o fazem pelo roteiro, nao o fazem pelas atuaçoes, nao o fazem pela fotografia. Assistem porque naquele momento não terão nada pra fazer e estarão na sala sentados no sofá com a TV ligada.
A audiência das novelas vem caindo ano após ano. Em 1986 a novela Roque Santeiro obteve 76 pontos de audiência segundo o IBOPE - hoje cada ponto equivale a 62.000 residencias sintonizadas. Em 2013 a novela Salve Jorge terminou com média de 35 pontos.
Acredito que a audiência não tenha se esvaído pela falta de qualidade dos folhetins - a falta da qualidade é uma característica do gênero. A queda se dá por conta das outras mídias, onipresentes nos dias de hoje. Além da tv a cabo, há a internet.
Eis que surge a nova novela, Amor a Vida. Por curiosidade acabei lendo a sinopse. Antonio Fagundes fará um bom moço pela centésima vez e será casado com Susana Vieira, uma mãe meio desequilibrada pela milésima vez. São eles, mas poderia ser o Tony Ramos com a Renata Sorrah, o Tarcísio Meira com a Renata Sorrah ou quaisquer outros, tanto faz. A história é mais ou menos assim:
A mocinha (interpretada por uma quase senhora de 30 anos) passou no vestibular e vai entrar na universidade. Para comemorar a família vai passear em Machu Pichu (todas novelas das 8 tem seus capítulos iniciais no exterior, antigamente era Europa. A crise os trouxe à América Latina). A mocinha é rejeitada pela mãe que só tem olhos para o filho, homossexual enrustido (ser homossexual é década de 10 total). Em Machu Pichu a mocinha conhece um doidão riponga e se apaixona. Engravida, nasce o filho. O irmão homossexual que detesta a mocinha, no caso sua irma, resolve sequestrar o sobrinho. Como o faz apenas por maldade e não para pedir um resgate, joga o bebê no lixo. Um desavisado encontra o bebê na lata de lixo e resolve adotá-la. Anos mais tarde a garotinha que foi reciclada pelo desavisado, por uma grande ironia do destino, aproxima-se de sua verdadeira mãe, que se torna sua pediatra.
Mais do mesmo. Uma história sem pé nem cabeça que só com muita "suspensão da descrença" irá colar.
Mas, como acredito que passando chuvisco entre 20h e 21h a audiência não baixaria dos 30 pontos, essa novela tem tudo para ser um sucesso. Ou não.
83 - Esmola
Era janeiro de 2013. Estávamos do lado de fora de um mercado público, sentados em cadeiras metálicas estampadas com a marca de uma cerveja qualquer. Aguardávamos uma porção de bichos-do-mar devidamente engordurados. Antes deles chegou à nossa mesa um maltratado homem. Chamava a atençao a pilha de livros que carregava. Um bibliotecário do pós-apocalipse é o que parecia. Pardo, extremamente pardo - se isso é possível. Apresentou-se educadamente. Morador de rua, analfabeto e vendedor de livros. Carregava em suas mãos um tesouro que seu analfabetismo não o permitia desfrutar. Coirado! Tao coitado quanto nós, analfabetos diante dos tesouros da vida.
Pedia quinze reais em troca de um exemplar de seus tesouros. Justo, ele faria melhor uso dos meus quinze reais e eu faria melhor uso de seu livro.
Enquanto escolhia, ele sugeria-me os livros mais grossos, imaginando que livros sao como camaroes empanados, quanto mais, melhor. Nao dei atençao e escolhi a mais reluzente joia do tesouro. Bukowski, Notas de um Velho Safado. Mais do que um livro, seria a minha primeira vez com o velho safado.
O livro, li com gosto. Bukowski é genial. Nao há palavras para descrever o quao valioso foi aquele momento, é como se eu tivesse sido apresentado para um grande amigo. Esse livro, tenho certeza, foi a melhor esmola que recebi.
--
Esse é Bukowski:
Das 5 irmãs, Cass era a mais moça e a mais bela. E a mais linda mulher da cidade. Mestiça de índia, de corpo flexível, estranho, sinuoso que nem cobra e fogoso como os olhos: um fogaréu vivo ambulante. Espírito impaciente para romper o molde incapaz de retê-lo.
Os cabelos pretos, longos e sedosos, ondulavam e balançavam ao andar. Sempre muito animada ou então deprimida, com Cass não havia esse negócio de meio termo. Segundo alguns, era louca. Opinião de apáticos. Que jamais poderiam compreendê-la. Para os homens, parecia apenas uma máquina de fazer sexo e pouco estavam ligando para a possibilidade de que fosse maluca. E passava a vida a dançar, a namorar e beijar. Mas, salvo raras exceções, na hora agá sempre encontrava forma de sumir e deixar todo mundo na mão.
As irmãs a acusavam de desperdiçar sua beleza, de falta de tino; só que Cass não era boba e sabia muito bem o que queria: pintava, dançava, cantava, dedicava-se a trabalhos de argila e, quando alguém se feria, na carne ou no espírito, a pena que sentia era uma coisa vinda do fundo da alma. A mentalidade é que simplesmente destoava das demais: nada tinha de prática. Quando seus namorados ficavam atraídos por ela, as irmãs se enciumavam e se enfureciam, achando que não sabia aproveitá-los como mereciam. Costumava mostrar-se boazinha com os feios e revoltava-se contra os considerados bonitos — “uns frouxos”, dizia, “sem graça nenhuma. Pensam que basta ter orelhinhas perfeitas e nariz bem modelado… Tudo por fora e nada por dentro…” Quando perdia a paciência, chegava às raias da loucura; tinha um gênio que alguns qualificavam de insanidade mental.
O pai havia morrido alcoólatra e a mãe fugira de casa, abandonando as filhas. As meninas procuraram um parente, que resolveu interná-las num convento. Experiência nada interessante, sobretudo para Cass. As colegas eram muito ciumentas e teve que brigar com a maioria. Trazia marcas de lâmina de gilete por todo o braço esquerdo, de tanto se defender durante suas brigas. Guardava, inclusive, uma cicatriz indelével na face esquerda, que em vez de empanar-lhe a beleza, só servia para realçá-la.
Conheci Cass uma noite no West End Bar, Fazia vários dias que tinha saído do convento. Por ser a caçula entre as irmãs, fora a última a sair. Simplesmente entrou e sentou do meu lado. Eu era provavelmente o homem mais feio da cidade — o que bem pode ter contribuído.
— Quer um drinque? — perguntei.
— Claro, por que não?
Não creio que houvesse nada de especial na conversa que tivemos essa noite. Foi mais a impressão que causava. Tinha me escolhido e ponto final. Sem a menor coação. Gostou da bebida e tomou varias doses. Não parecia ser de maior idade, mas, não sei como, ninguém se recusava a servi-la. Talvez tivesse carteira de identidade falsa, sei lá. O certo é que toda vez que voltava do toalete para sentar do meu lado, me dava uma pontada de orgulho. Não só era a mais linda mulher da cidade como também das mais belas que vi em toda minha vida. Passei-lhe o braço pela cintura e dei-lhe um beijo.
— Me acha bonita? — perguntou.
— Lógico que acho, mas não é só isso… é mais que uma simples questão de beleza…
— As pessoas sempre me acusam de ser bonita. Acha mesmo que eu sou?
— Bonita não é bem o termo, e nem te faz justiça.
Cass meteu a mão na bolsa. Julguei que estivesse procurando um lenço. Mas tirou um longo grampo de chapéu. Antes que pudesse impedir, já tinha espetado o tal grampo, de lado, na ponta do nariz. Senti asco e horror.
Ela me olhou e riu.
— E agora, ainda me acha bonita? O que é que você acha agora, cara?
Puxei o grampo, estancando o sangue com o lenço que trazia no bolso. Diversas pessoas, inclusive o sujeito que atendia no balcão, tinham assistido a cena. Ele veio até a mesa:
— Olha — disse para Cass, — se fizer isso de novo, vai ter que dar o fora. Aqui ninguém gosta de drama.
— Ah, vai te foder, cara!
— É melhor não dar mais bebida pra ela — aconselhou o sujeito.
— Não tem perigo — prometi.
— O nariz é meu — protestou Cass, — faço dele o que bem entendo.
— Não faz, não — retruquei, — porque isso me dói.
— Quer dizer que eu cravo o grampo no nariz e você é que sente dor?
— Sinto, sim. Palavra.
— Está bem, pode deixar que eu não cravo mais. Fica sossegado.
Me beijou, ainda sorrindo e com o lenço encostado no nariz. Na hora de fechar o bar, fomos para onde eu morava. Tinha um pouco de cerveja na geladeira e ficamos lá sentados, conversando. E só então percebi que estava diante de uma criatura cheia de delicadeza e carinho. Que se traia sem se dar conta. Ao mesmo tempo que se encolhia numa mistura de insensatez e incoerência. Uma verdadeira preciosidade. Uma jóia, linda e espiritual. Talvez algum homem, uma coisa qualquer, um dia a destruísse para sempre. Fiquei torcendo para que não fosse eu.
Deitamos na cama e, depois que apaguei a luz, Cass perguntou:
— Quando é que você quer transar? Agora ou amanhã de manhã?
— Amanhã de manhã — respondi, — virando de costas pra ela.
No dia seguinte me levantei e fiz dois cafés. Levei o dela na cama.
Deu uma risada.
— Você é o primeiro homem que conheço que não quis transar de noite.
— Deixa pra lá — retruquei, — a gente nem precisa disso.
— Não, pára aí, agora me deu vontade. Espera um pouco que não demoro.
Foi até o banheiro e voltou em seguida, com uma aparência simplesmente sensacional — os longos cabelos pretos brilhando, os olhos e a boca brilhando, aquilo brilhando… Mostrava o corpo com calma, como a coisa boa que era. Meteu-se em baixo do lençol.
— Vem de uma vez, gostosão.
Deitei na cama.
Beijava com entrega, mas sem se afobar. Passei-lhe as mãos pelo corpo todo, por entre os cabelos. Fui por
cima. Era quente e apertada. Comecei a meter devagar, compassadamente, não querendo acabar logo. Os olhos dela encaravam, fixos, os meus.
— Qual é o teu nome? — perguntei.
— Porra, que diferença faz? — replicou.
Ri e continuei metendo. Mais tarde se vestiu e levei-a de carro de novo para o bar. Mas não foi nada fácil esquecê-la. Eu não andava trabalhando e dormi até às 2 da tarde. Depois levantei e li o jornal. Estava na banheira quando ela entrou com uma folhagem grande na mão — uma folha de inhame.
— Sabia que ia te encontrar no banho — disse, — por isso trouxe isto aqui pra cobrir esse teu troço aí, seu nudista.
E atirou a folha de inhame dentro da banheira.
— Como adivinhou que eu estava aqui?
— Adivinhando, ora.
Chegava quase sempre quando eu estava tomando banho. O horário podia variar, mas Cass raramente se enganava. E tinha todos os dias a folha de inhame. Depois a gente trepava.
Houve uma ou duas noites em que telefonou e tive que ir pagar a fiança para livrá-la da detenção por embriaguez ou desordem.
— Esses filhos da puta — disse ela, — só porque pagam umas biritas pensam que são donos da gente.
— Quem topa o convite já está comprando barulho.
— Imaginei que estivessem interessados em mim e não apenas no meu corpo.
— Eu estou interessado em você e também no seu corpo. Mas duvido muito que a maioria não se contente com o corpo.
Me ausentei seis meses da cidade, vagabundeei um pouco e acabei voltando. Não esqueci Cass, mas a gente havia discutido por algum motivo qualquer e me deu vontade de zanzar por aí. Quando cheguei, supus que tivesse sumido, mas nem fazia meia hora que estava sentado no West End Bar quando entrou e veio sentar do meu lado.
— Como é, seu sacana, pelo que vejo já voltou.
Pedi bebida para ela. Depois olhei. Estava com um vestido de gola fechada. Cass jamais tinha andado com um traje desses. E logo abaixo de cada olheira, espetados, havia dois grampos com ponta de vidro. Só dava para ver as pontas, mas os grampos, virados para baixo, estavam enterrados na carne do rosto.
— Porra, ainda não desistiu de estragar sua beleza?
— Que nada, seu bobo, agora é moda.
— Pirou de vez.
— Sabe que sinto saudade — comentou.
— Não tem mais ninguém no pedaço?
— Não, só você. Mas agora resolvi dar uma de puta. Cobro dez pratas. Pra você, porém, é de graça.
— Tira esses grampos daí.
— Negativo. É moda.
— Estão me deixando chateado.
— Tem certeza?
— Claro que tenho, pô.
Cass tirou os grampos devagar e guardou na bolsa.
— Por que é que faz tanta questão de esculhambar o teu rosto? — perguntei. — Quando vai se conformar com a idéia de ser bonita?
— Quando as pessoas pararem de pensar que é a única coisa que eu sou. Beleza não vale nada e depois não dura. Você nem sabe a sorte que tem de ser feio. Assim, quando alguém simpatiza contigo, já sabe que é por outra razão.
— Então tá. Sorte minha, né?
— Não que você seja feio. Os outros é que acham. Até que a tua cara é bacana.
— Muito obrigado.
Tomamos outro drinque.
— O que anda fazendo? — perguntou.
— Nada. Não há jeito de me interessar por coisa alguma. Falta de ânimo.
— Eu também. Se fosse mulher, podia ser puta.
— Acho que não ia gostar de um contato tão íntimo com tantos caras desconhecidos. Acaba enchendo.
— Puro fato, acaba enchendo mesmo. Tudo acaba enchendo.
Saímos juntos do bar. Na rua as pessoas ainda se espantavam com Cass. Continuava linda, talvez mais do que antes.
Fomos para o meu endereço. Abri uma garrafa de vinho e ficamos batendo papo. Entre nós dois a conversa
sempre fluía espontânea. Ela falava um pouco, eu prestava atenção, e depois chegava a minha vez. Nosso diálogo era sempre assim, simples, sem esforço nenhum. Parecia que tínhamos segredos em comum.
Quando se descobria um que valesse a pena, Cass dava aquela risada — da maneira que só ela sabia dar.
Era como a alegria provocada por uma fogueira. Enquanto conversávamos, fomos nos beijando e aproximando cada vez mais. Ficamos com tesão e resolvemos ir para a cama, Foi então que Cass tirou o vestido de gola fechada e vi a horrenda cicatriz irregular no pescoço — grande e saliente.
— Puta que pariu, criatura — exclamei, já deitado. — Puta que pariu. Como é que você foi me fazer uma
coisa dessas?
— Experimentei uma noite, com um caco de garrafa. Não gosta mais de mim? Deixei de ser bonita?
Puxei-a para a cama e dei-lhe um beijo na boca. Me empurrou para trás e riu.
— Tem homens que me pagam as dez pratas, aí tiro a roupa e desistem
de transar. E eu guardo o dinheiro pra mim. É engraçadíssimo.
— Se é — retruquei, — estou quase morrendo de tanto rir… Cass, sua cretina, eu amo você… mas pára com esse negócio de querer se destruir. Você é a mulher mais cheia de vida que já encontrei.
Beijamos de novo. Começou a chorar baixinho. Sentia-lhe as lágrimas no rosto. Aqueles longos cabelos pretos me cobriam as costas feito mortalha. Colamos os corpos e começamos a trepar, lenta, sombria e maravilhosamente bem.
Na manhã seguinte acordei com Cass já em pé, preparando o café. Dava a impressão de estar perfeitamente calma e feliz. Até cantarolava. Fiquei ali deitado, contente com a felicidade dela. Por fim veio até a cama e me sacudiu.
— Levanta, cafajeste! Joga um pouco de água fria nessa cara e nessa pica e vem participar da festa!
Naquele dia convidei-a para ir à praia de carro. Como estávamos na metade da semana e o verão ainda não tinha chegado, encontramos tudo maravilhosamente deserto. Ratos de praia, com a roupa em farrapos, dormiam espalhados pelo gramado longe da areia. Outros, sentados em bancos de pedra, dividiam uma garrafa de bebida tristonha. Gaivotas esvoaçavam no ar, descuidadas e no entanto aturdidas. Velhinhas de seus 70 ou 80 anos, lado a lado nos bancos, comentavam a venda de imóveis herdados de maridos mortos há muito tempo, vitimados pelo ritmo e estupidez da sobrevivência. Por causa de tudo isso, respirava-se uma atmosfera de paz e ficamos andando, para cima e para baixo, deitando e espreguiçando-nos na relva, sem falar quase nada. Com aquela sensação simplesmente gostosa de estar juntos. Comprei sanduíches, batata frita e uns copos de bebida e nos deixamos ficar sentados, comendo na areia. Depois me abracei a Cass e dormimos encostados um no outro durante quase uma hora. Não sei por quê, mas foi melhor do que
se tivessemos transado. Quando acordamos, voltamos de carro para onde eu morava e fiz o jantar.
Jantamos e sugeri que fossemos para a cama. Cass hesitou um bocado de tempo, me olhando, e ao respondeu, pensativa:
— Não.
Levei-a outra vez até o bar, paguei-lhe um drinque e vim-me embora. No dia seguinte encontrei serviço como empacotador numa fábrica e passei o resto da semana trabalhando. Andava cansado demais para cogitar de sair à noite, mas naquela sexta-feira acabei indo ao West End Bar. Sentei e esperei por Cass.
Passaram-se horas. Depois que já estava bastante bêbado, o sujeito que atendia no balcão me disse:
— Uma pena o que houve com sua amiga.
— Pena por quê? — estranhei.
— Desculpe. Pensei que soubesse.
— Não.
— Se suicidou. Foi enterrada ontem.
— Enterrada? — repeti.
Estava com a sensação de que ela ia entrar a qualquer momento pela porta da rua. Como poderia estar morta?
— Sim, pelas irmãs.
— Se suicidou? Pode-se saber de que modo?
— Cortou a garganta.
— Ah. Me dá outra dose.
Bebi até a hora de fechar. Cass, a mais bela das 5 irmãs, a mais linda mulher da cidade. Consegui ir dirigindo até onde morava. Não parava de pensar. Deveria ter insistido para que ficasse comigo em vez de aceitar aquele “não”. Todo o seu jeito era de quem gostava de mim. Eu é que simplesmente tinha bancado o durão, decerto por preguiça, por ser desligado demais. Merecia a minha morte e a dela. Era um cão. Não, para que pôr a culpa nos cães? Levantei, encontrei uma garrafa de vinho e bebi quase inteira. Cass, a garota mais linda da cidade, morta aos vinte anos.
Lá fora, na rua, alguém buzinou dentro de um carro. Uma buzina fortíssima, insistente. Bati a garrafa com força e gritei:
— MERDA! PÁRA COM ISSO, SEU FILHO DA PUTA!
A noite foi ficando cada vez mais escura e eu não podia fazer mais nada.
Pedia quinze reais em troca de um exemplar de seus tesouros. Justo, ele faria melhor uso dos meus quinze reais e eu faria melhor uso de seu livro.
Enquanto escolhia, ele sugeria-me os livros mais grossos, imaginando que livros sao como camaroes empanados, quanto mais, melhor. Nao dei atençao e escolhi a mais reluzente joia do tesouro. Bukowski, Notas de um Velho Safado. Mais do que um livro, seria a minha primeira vez com o velho safado.
O livro, li com gosto. Bukowski é genial. Nao há palavras para descrever o quao valioso foi aquele momento, é como se eu tivesse sido apresentado para um grande amigo. Esse livro, tenho certeza, foi a melhor esmola que recebi.
--
Esse é Bukowski:
Das 5 irmãs, Cass era a mais moça e a mais bela. E a mais linda mulher da cidade. Mestiça de índia, de corpo flexível, estranho, sinuoso que nem cobra e fogoso como os olhos: um fogaréu vivo ambulante. Espírito impaciente para romper o molde incapaz de retê-lo.
Os cabelos pretos, longos e sedosos, ondulavam e balançavam ao andar. Sempre muito animada ou então deprimida, com Cass não havia esse negócio de meio termo. Segundo alguns, era louca. Opinião de apáticos. Que jamais poderiam compreendê-la. Para os homens, parecia apenas uma máquina de fazer sexo e pouco estavam ligando para a possibilidade de que fosse maluca. E passava a vida a dançar, a namorar e beijar. Mas, salvo raras exceções, na hora agá sempre encontrava forma de sumir e deixar todo mundo na mão.
As irmãs a acusavam de desperdiçar sua beleza, de falta de tino; só que Cass não era boba e sabia muito bem o que queria: pintava, dançava, cantava, dedicava-se a trabalhos de argila e, quando alguém se feria, na carne ou no espírito, a pena que sentia era uma coisa vinda do fundo da alma. A mentalidade é que simplesmente destoava das demais: nada tinha de prática. Quando seus namorados ficavam atraídos por ela, as irmãs se enciumavam e se enfureciam, achando que não sabia aproveitá-los como mereciam. Costumava mostrar-se boazinha com os feios e revoltava-se contra os considerados bonitos — “uns frouxos”, dizia, “sem graça nenhuma. Pensam que basta ter orelhinhas perfeitas e nariz bem modelado… Tudo por fora e nada por dentro…” Quando perdia a paciência, chegava às raias da loucura; tinha um gênio que alguns qualificavam de insanidade mental.
O pai havia morrido alcoólatra e a mãe fugira de casa, abandonando as filhas. As meninas procuraram um parente, que resolveu interná-las num convento. Experiência nada interessante, sobretudo para Cass. As colegas eram muito ciumentas e teve que brigar com a maioria. Trazia marcas de lâmina de gilete por todo o braço esquerdo, de tanto se defender durante suas brigas. Guardava, inclusive, uma cicatriz indelével na face esquerda, que em vez de empanar-lhe a beleza, só servia para realçá-la.
Conheci Cass uma noite no West End Bar, Fazia vários dias que tinha saído do convento. Por ser a caçula entre as irmãs, fora a última a sair. Simplesmente entrou e sentou do meu lado. Eu era provavelmente o homem mais feio da cidade — o que bem pode ter contribuído.
— Quer um drinque? — perguntei.
— Claro, por que não?
Não creio que houvesse nada de especial na conversa que tivemos essa noite. Foi mais a impressão que causava. Tinha me escolhido e ponto final. Sem a menor coação. Gostou da bebida e tomou varias doses. Não parecia ser de maior idade, mas, não sei como, ninguém se recusava a servi-la. Talvez tivesse carteira de identidade falsa, sei lá. O certo é que toda vez que voltava do toalete para sentar do meu lado, me dava uma pontada de orgulho. Não só era a mais linda mulher da cidade como também das mais belas que vi em toda minha vida. Passei-lhe o braço pela cintura e dei-lhe um beijo.
— Me acha bonita? — perguntou.
— Lógico que acho, mas não é só isso… é mais que uma simples questão de beleza…
— As pessoas sempre me acusam de ser bonita. Acha mesmo que eu sou?
— Bonita não é bem o termo, e nem te faz justiça.
Cass meteu a mão na bolsa. Julguei que estivesse procurando um lenço. Mas tirou um longo grampo de chapéu. Antes que pudesse impedir, já tinha espetado o tal grampo, de lado, na ponta do nariz. Senti asco e horror.
Ela me olhou e riu.
— E agora, ainda me acha bonita? O que é que você acha agora, cara?
Puxei o grampo, estancando o sangue com o lenço que trazia no bolso. Diversas pessoas, inclusive o sujeito que atendia no balcão, tinham assistido a cena. Ele veio até a mesa:
— Olha — disse para Cass, — se fizer isso de novo, vai ter que dar o fora. Aqui ninguém gosta de drama.
— Ah, vai te foder, cara!
— É melhor não dar mais bebida pra ela — aconselhou o sujeito.
— Não tem perigo — prometi.
— O nariz é meu — protestou Cass, — faço dele o que bem entendo.
— Não faz, não — retruquei, — porque isso me dói.
— Quer dizer que eu cravo o grampo no nariz e você é que sente dor?
— Sinto, sim. Palavra.
— Está bem, pode deixar que eu não cravo mais. Fica sossegado.
Me beijou, ainda sorrindo e com o lenço encostado no nariz. Na hora de fechar o bar, fomos para onde eu morava. Tinha um pouco de cerveja na geladeira e ficamos lá sentados, conversando. E só então percebi que estava diante de uma criatura cheia de delicadeza e carinho. Que se traia sem se dar conta. Ao mesmo tempo que se encolhia numa mistura de insensatez e incoerência. Uma verdadeira preciosidade. Uma jóia, linda e espiritual. Talvez algum homem, uma coisa qualquer, um dia a destruísse para sempre. Fiquei torcendo para que não fosse eu.
Deitamos na cama e, depois que apaguei a luz, Cass perguntou:
— Quando é que você quer transar? Agora ou amanhã de manhã?
— Amanhã de manhã — respondi, — virando de costas pra ela.
No dia seguinte me levantei e fiz dois cafés. Levei o dela na cama.
Deu uma risada.
— Você é o primeiro homem que conheço que não quis transar de noite.
— Deixa pra lá — retruquei, — a gente nem precisa disso.
— Não, pára aí, agora me deu vontade. Espera um pouco que não demoro.
Foi até o banheiro e voltou em seguida, com uma aparência simplesmente sensacional — os longos cabelos pretos brilhando, os olhos e a boca brilhando, aquilo brilhando… Mostrava o corpo com calma, como a coisa boa que era. Meteu-se em baixo do lençol.
— Vem de uma vez, gostosão.
Deitei na cama.
Beijava com entrega, mas sem se afobar. Passei-lhe as mãos pelo corpo todo, por entre os cabelos. Fui por
cima. Era quente e apertada. Comecei a meter devagar, compassadamente, não querendo acabar logo. Os olhos dela encaravam, fixos, os meus.
— Qual é o teu nome? — perguntei.
— Porra, que diferença faz? — replicou.
Ri e continuei metendo. Mais tarde se vestiu e levei-a de carro de novo para o bar. Mas não foi nada fácil esquecê-la. Eu não andava trabalhando e dormi até às 2 da tarde. Depois levantei e li o jornal. Estava na banheira quando ela entrou com uma folhagem grande na mão — uma folha de inhame.
— Sabia que ia te encontrar no banho — disse, — por isso trouxe isto aqui pra cobrir esse teu troço aí, seu nudista.
E atirou a folha de inhame dentro da banheira.
— Como adivinhou que eu estava aqui?
— Adivinhando, ora.
Chegava quase sempre quando eu estava tomando banho. O horário podia variar, mas Cass raramente se enganava. E tinha todos os dias a folha de inhame. Depois a gente trepava.
Houve uma ou duas noites em que telefonou e tive que ir pagar a fiança para livrá-la da detenção por embriaguez ou desordem.
— Esses filhos da puta — disse ela, — só porque pagam umas biritas pensam que são donos da gente.
— Quem topa o convite já está comprando barulho.
— Imaginei que estivessem interessados em mim e não apenas no meu corpo.
— Eu estou interessado em você e também no seu corpo. Mas duvido muito que a maioria não se contente com o corpo.
Me ausentei seis meses da cidade, vagabundeei um pouco e acabei voltando. Não esqueci Cass, mas a gente havia discutido por algum motivo qualquer e me deu vontade de zanzar por aí. Quando cheguei, supus que tivesse sumido, mas nem fazia meia hora que estava sentado no West End Bar quando entrou e veio sentar do meu lado.
— Como é, seu sacana, pelo que vejo já voltou.
Pedi bebida para ela. Depois olhei. Estava com um vestido de gola fechada. Cass jamais tinha andado com um traje desses. E logo abaixo de cada olheira, espetados, havia dois grampos com ponta de vidro. Só dava para ver as pontas, mas os grampos, virados para baixo, estavam enterrados na carne do rosto.
— Porra, ainda não desistiu de estragar sua beleza?
— Que nada, seu bobo, agora é moda.
— Pirou de vez.
— Sabe que sinto saudade — comentou.
— Não tem mais ninguém no pedaço?
— Não, só você. Mas agora resolvi dar uma de puta. Cobro dez pratas. Pra você, porém, é de graça.
— Tira esses grampos daí.
— Negativo. É moda.
— Estão me deixando chateado.
— Tem certeza?
— Claro que tenho, pô.
Cass tirou os grampos devagar e guardou na bolsa.
— Por que é que faz tanta questão de esculhambar o teu rosto? — perguntei. — Quando vai se conformar com a idéia de ser bonita?
— Quando as pessoas pararem de pensar que é a única coisa que eu sou. Beleza não vale nada e depois não dura. Você nem sabe a sorte que tem de ser feio. Assim, quando alguém simpatiza contigo, já sabe que é por outra razão.
— Então tá. Sorte minha, né?
— Não que você seja feio. Os outros é que acham. Até que a tua cara é bacana.
— Muito obrigado.
Tomamos outro drinque.
— O que anda fazendo? — perguntou.
— Nada. Não há jeito de me interessar por coisa alguma. Falta de ânimo.
— Eu também. Se fosse mulher, podia ser puta.
— Acho que não ia gostar de um contato tão íntimo com tantos caras desconhecidos. Acaba enchendo.
— Puro fato, acaba enchendo mesmo. Tudo acaba enchendo.
Saímos juntos do bar. Na rua as pessoas ainda se espantavam com Cass. Continuava linda, talvez mais do que antes.
Fomos para o meu endereço. Abri uma garrafa de vinho e ficamos batendo papo. Entre nós dois a conversa
sempre fluía espontânea. Ela falava um pouco, eu prestava atenção, e depois chegava a minha vez. Nosso diálogo era sempre assim, simples, sem esforço nenhum. Parecia que tínhamos segredos em comum.
Quando se descobria um que valesse a pena, Cass dava aquela risada — da maneira que só ela sabia dar.
Era como a alegria provocada por uma fogueira. Enquanto conversávamos, fomos nos beijando e aproximando cada vez mais. Ficamos com tesão e resolvemos ir para a cama, Foi então que Cass tirou o vestido de gola fechada e vi a horrenda cicatriz irregular no pescoço — grande e saliente.
— Puta que pariu, criatura — exclamei, já deitado. — Puta que pariu. Como é que você foi me fazer uma
coisa dessas?
— Experimentei uma noite, com um caco de garrafa. Não gosta mais de mim? Deixei de ser bonita?
Puxei-a para a cama e dei-lhe um beijo na boca. Me empurrou para trás e riu.
— Tem homens que me pagam as dez pratas, aí tiro a roupa e desistem
de transar. E eu guardo o dinheiro pra mim. É engraçadíssimo.
— Se é — retruquei, — estou quase morrendo de tanto rir… Cass, sua cretina, eu amo você… mas pára com esse negócio de querer se destruir. Você é a mulher mais cheia de vida que já encontrei.
Beijamos de novo. Começou a chorar baixinho. Sentia-lhe as lágrimas no rosto. Aqueles longos cabelos pretos me cobriam as costas feito mortalha. Colamos os corpos e começamos a trepar, lenta, sombria e maravilhosamente bem.
Na manhã seguinte acordei com Cass já em pé, preparando o café. Dava a impressão de estar perfeitamente calma e feliz. Até cantarolava. Fiquei ali deitado, contente com a felicidade dela. Por fim veio até a cama e me sacudiu.
— Levanta, cafajeste! Joga um pouco de água fria nessa cara e nessa pica e vem participar da festa!
Naquele dia convidei-a para ir à praia de carro. Como estávamos na metade da semana e o verão ainda não tinha chegado, encontramos tudo maravilhosamente deserto. Ratos de praia, com a roupa em farrapos, dormiam espalhados pelo gramado longe da areia. Outros, sentados em bancos de pedra, dividiam uma garrafa de bebida tristonha. Gaivotas esvoaçavam no ar, descuidadas e no entanto aturdidas. Velhinhas de seus 70 ou 80 anos, lado a lado nos bancos, comentavam a venda de imóveis herdados de maridos mortos há muito tempo, vitimados pelo ritmo e estupidez da sobrevivência. Por causa de tudo isso, respirava-se uma atmosfera de paz e ficamos andando, para cima e para baixo, deitando e espreguiçando-nos na relva, sem falar quase nada. Com aquela sensação simplesmente gostosa de estar juntos. Comprei sanduíches, batata frita e uns copos de bebida e nos deixamos ficar sentados, comendo na areia. Depois me abracei a Cass e dormimos encostados um no outro durante quase uma hora. Não sei por quê, mas foi melhor do que
se tivessemos transado. Quando acordamos, voltamos de carro para onde eu morava e fiz o jantar.
Jantamos e sugeri que fossemos para a cama. Cass hesitou um bocado de tempo, me olhando, e ao respondeu, pensativa:
— Não.
Levei-a outra vez até o bar, paguei-lhe um drinque e vim-me embora. No dia seguinte encontrei serviço como empacotador numa fábrica e passei o resto da semana trabalhando. Andava cansado demais para cogitar de sair à noite, mas naquela sexta-feira acabei indo ao West End Bar. Sentei e esperei por Cass.
Passaram-se horas. Depois que já estava bastante bêbado, o sujeito que atendia no balcão me disse:
— Uma pena o que houve com sua amiga.
— Pena por quê? — estranhei.
— Desculpe. Pensei que soubesse.
— Não.
— Se suicidou. Foi enterrada ontem.
— Enterrada? — repeti.
Estava com a sensação de que ela ia entrar a qualquer momento pela porta da rua. Como poderia estar morta?
— Sim, pelas irmãs.
— Se suicidou? Pode-se saber de que modo?
— Cortou a garganta.
— Ah. Me dá outra dose.
Bebi até a hora de fechar. Cass, a mais bela das 5 irmãs, a mais linda mulher da cidade. Consegui ir dirigindo até onde morava. Não parava de pensar. Deveria ter insistido para que ficasse comigo em vez de aceitar aquele “não”. Todo o seu jeito era de quem gostava de mim. Eu é que simplesmente tinha bancado o durão, decerto por preguiça, por ser desligado demais. Merecia a minha morte e a dela. Era um cão. Não, para que pôr a culpa nos cães? Levantei, encontrei uma garrafa de vinho e bebi quase inteira. Cass, a garota mais linda da cidade, morta aos vinte anos.
Lá fora, na rua, alguém buzinou dentro de um carro. Uma buzina fortíssima, insistente. Bati a garrafa com força e gritei:
— MERDA! PÁRA COM ISSO, SEU FILHO DA PUTA!
A noite foi ficando cada vez mais escura e eu não podia fazer mais nada.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
terça-feira, 23 de abril de 2013
79 - Entender
Não entendo
a necessidade de entender
e
a dificuldade de sentir
entenda
se não por mim
por ti
segunda-feira, 18 de março de 2013
78
Gosto de falar sobre política, afinal, acredito que tudo é política. Somos seres políticos, não somos? Escolher falar sobre política, e não sobre a novela, é um ato político.
Mas ao falar da política partidária, evito fazer críticas a qualquer partido. Hoje a estrutura político partidária brasileira está bipolarizada. De um lado PT, do outro PSDB. E o PMDB ao lado de quem está no poder.
Durante um debate, ao, por exemplo, criticar o PT, implicitamente você está simpático ao PSDB, mesmo que não esteja. O seu interlocutor assim o entenderá. E, ser simpático a qualquer partido político, é algo que recuso.
Digo isso após, por acaso, ler sobre uma manifestação política nas Filipinas. Lá estudantes atearam fogo em uma universidade porque uma aluna havia se suicidado após ser expulsa da faculdade por inadimplemento. Os alunos ainda denunciaram os preços abusivos das mensalidades.
Os protestos são interessantes, pois são muito parecidos em quase todo o mundo. As pessoas aguentam toda a opressão de maneira passiva por longos períodos de tempo. Chega um ponto em que a paciência e a boa vontade acabam, e aí as pessoas ficam revoltadas e explodem. Saem às ruas, quebram vidraças, ateiam fogo - um momento anárquico. Mas esse momento acaba quando a polícia aparece e repreende de maneira dura os desordeiros. Balas de borracha, bombas de efeito moral , gás lacrimogênio e outras "munições menos letais" são usadas para temperar o caos e trazer de volta a ordem. Basta uma borrachada para o manifestante cair na real e se dar conta de que ele não pode fazer nada contra a força opressiva do Estado.
Se não for preso, o coitado volta pra casa para viver a sua vidinha. Até a próxima explosão.
Alguns outros protestos, são mais interessantes. Mais inteligentes. Mas só poderão existir se passarem pelo crivo do Estado.
Marcha da Maconha pode. O STF mandou avisar que marcha da maconha pode. Antes não podia. E muito maconheiro apanhou da polícia e foi preso. Mas no ano seguinte eles estavam lá. Com mais e melhores argumentos. Tomavam mais borrachadas, mas não desistiam, voltavam maiores e mais fortes. E, hoje, ninguém duvida que em breve terão o seu sagrado direito de fumar admitido pelo mesmo Estado que os espancava até bem pouco tempo.
Enquanto o povo esperar passivamente a "explosão" para partir para ação, o Estado virá com mais borracha.
--
E por que eu não gosto de parecer simpático ao partido A ou B? Porque são eles que puxam o gatilho.
Quando o povo pede democracia, o Estado oferece pimenta.
Mas ao falar da política partidária, evito fazer críticas a qualquer partido. Hoje a estrutura político partidária brasileira está bipolarizada. De um lado PT, do outro PSDB. E o PMDB ao lado de quem está no poder.
Durante um debate, ao, por exemplo, criticar o PT, implicitamente você está simpático ao PSDB, mesmo que não esteja. O seu interlocutor assim o entenderá. E, ser simpático a qualquer partido político, é algo que recuso.
Digo isso após, por acaso, ler sobre uma manifestação política nas Filipinas. Lá estudantes atearam fogo em uma universidade porque uma aluna havia se suicidado após ser expulsa da faculdade por inadimplemento. Os alunos ainda denunciaram os preços abusivos das mensalidades.
Os protestos são interessantes, pois são muito parecidos em quase todo o mundo. As pessoas aguentam toda a opressão de maneira passiva por longos períodos de tempo. Chega um ponto em que a paciência e a boa vontade acabam, e aí as pessoas ficam revoltadas e explodem. Saem às ruas, quebram vidraças, ateiam fogo - um momento anárquico. Mas esse momento acaba quando a polícia aparece e repreende de maneira dura os desordeiros. Balas de borracha, bombas de efeito moral , gás lacrimogênio e outras "munições menos letais" são usadas para temperar o caos e trazer de volta a ordem. Basta uma borrachada para o manifestante cair na real e se dar conta de que ele não pode fazer nada contra a força opressiva do Estado.
Se não for preso, o coitado volta pra casa para viver a sua vidinha. Até a próxima explosão.
Alguns outros protestos, são mais interessantes. Mais inteligentes. Mas só poderão existir se passarem pelo crivo do Estado.
Marcha da Maconha pode. O STF mandou avisar que marcha da maconha pode. Antes não podia. E muito maconheiro apanhou da polícia e foi preso. Mas no ano seguinte eles estavam lá. Com mais e melhores argumentos. Tomavam mais borrachadas, mas não desistiam, voltavam maiores e mais fortes. E, hoje, ninguém duvida que em breve terão o seu sagrado direito de fumar admitido pelo mesmo Estado que os espancava até bem pouco tempo.
Enquanto o povo esperar passivamente a "explosão" para partir para ação, o Estado virá com mais borracha.
--
E por que eu não gosto de parecer simpático ao partido A ou B? Porque são eles que puxam o gatilho.
Quando o povo pede democracia, o Estado oferece pimenta.
terça-feira, 12 de março de 2013
76 - Mundo Surreal
Mundo surreal esse que vivemos.
O cara participa, pela segunda vez, do BBB. Lá dentro da casa ele fica com uma garota. Ele é eliminado, ela não. Ela é indicada ao paredão e a família vai ao Rio de Janeiro para o paredão. O cara convida os pais da garota para almoçar - imagine o papo.
E o surreal?
Isso vira notícia.
75 - Passarinho
Mario Quintana morreu em 1994. Eu tinha 12 anos na época.
Lembro até hoje do dia que anunciaram sua morte no Jornal Nacional. Uma de suas poesias, citadas na matéria, ficou na minha cabeça. O "Poeminho do Contra".
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
Eu não entendi. Poesia era algo muito complicado para mim. Como assim, "eu passarinho"?!?
Tentei interpretar de maneira cartesiana - e hoje fico espantado ao perceber que crianças de doze anos estão pensando cartesianamente - e não cheguei a lugar algum. Não fui feliz.
E, hoje, passados 18 anos do episódio, eu sou capaz de compreender o "poeminho". Não de interpretá-lo, sim compreendê-lo. Não há nada mais preciso do que afirmar que "não fui feliz" ao não entender o poema.
Ao contrário, ao entendê-lo - o entendimento da poesia, vá muito além da mera interpretação - "fui feliz".
E mais feliz ainda sou por perceber que com 30 sou mais sensível do que com 12.
--
Daquilo, nasceu isso:
Com 12 tentei Quintana entender
Mas não entendi
Com 30 pude perceber
Quanto tempo eu perdi
Lembro até hoje do dia que anunciaram sua morte no Jornal Nacional. Uma de suas poesias, citadas na matéria, ficou na minha cabeça. O "Poeminho do Contra".
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
Eu não entendi. Poesia era algo muito complicado para mim. Como assim, "eu passarinho"?!?
Tentei interpretar de maneira cartesiana - e hoje fico espantado ao perceber que crianças de doze anos estão pensando cartesianamente - e não cheguei a lugar algum. Não fui feliz.
E, hoje, passados 18 anos do episódio, eu sou capaz de compreender o "poeminho". Não de interpretá-lo, sim compreendê-lo. Não há nada mais preciso do que afirmar que "não fui feliz" ao não entender o poema.
Ao contrário, ao entendê-lo - o entendimento da poesia, vá muito além da mera interpretação - "fui feliz".
E mais feliz ainda sou por perceber que com 30 sou mais sensível do que com 12.
--
Daquilo, nasceu isso:
Com 12 tentei Quintana entender
Mas não entendi
Com 30 pude perceber
Quanto tempo eu perdi
74 - onírico
Não tenho muitas posses, mas tenho muitos sonhos.
As posses são úteis. Os sonhos não.
Um carro veloz tem muita utilidade. É capaz de percorrer longas distâncias em pouco tempo.
Uma televisão com uma grande tela é utilíssima. Transmite filmes, novelas, outras atrações e muito entretenimento.
Um sapato de couro de jacaré também tem sua utilidade. Combina finamente com ternos italianos.
Uma panela é útil para cozinhar.
Um martelo é útil para pregar.
Uma cadeira é útil para sentar.
Os sonhos são inúteis. Esses, tenho muitos.
Os sonhos não estão relacionados ao ter. Os meus sonhos são o que sou. Quando sonho, sou um sonhador - e, nada contra burocratas úteis calçando sapatos de couro de jacaré e trajando ternos italianos, eu sou muito mais os sonhadores.
Os sonhadores com seus sonhos sonham o sonho do mundo.
Enquanto Ghandi sonhou com a revolução através da verdade e da não violência, e Lennon sonhou com a paz na Terra, eu tenho sonhos mais modestos. Sonho em ser acordado por um passarinho. Ver o verde vencer o cinza. Sentir cheiro de terra molhada sempre que chove.
Sonho com as pessoas vendendo posses e comprando sonhos. Porque, quando compramos sonhos, somos, enfim, ricos.
As posses são úteis. Os sonhos, imortais.
As posses são úteis. Os sonhos não.
Um carro veloz tem muita utilidade. É capaz de percorrer longas distâncias em pouco tempo.
Uma televisão com uma grande tela é utilíssima. Transmite filmes, novelas, outras atrações e muito entretenimento.
Um sapato de couro de jacaré também tem sua utilidade. Combina finamente com ternos italianos.
Uma panela é útil para cozinhar.
Um martelo é útil para pregar.
Uma cadeira é útil para sentar.
Os sonhos são inúteis. Esses, tenho muitos.
Os sonhos não estão relacionados ao ter. Os meus sonhos são o que sou. Quando sonho, sou um sonhador - e, nada contra burocratas úteis calçando sapatos de couro de jacaré e trajando ternos italianos, eu sou muito mais os sonhadores.
Os sonhadores com seus sonhos sonham o sonho do mundo.
Enquanto Ghandi sonhou com a revolução através da verdade e da não violência, e Lennon sonhou com a paz na Terra, eu tenho sonhos mais modestos. Sonho em ser acordado por um passarinho. Ver o verde vencer o cinza. Sentir cheiro de terra molhada sempre que chove.
Sonho com as pessoas vendendo posses e comprando sonhos. Porque, quando compramos sonhos, somos, enfim, ricos.
As posses são úteis. Os sonhos, imortais.
sexta-feira, 1 de março de 2013
73
A onipresença das tais redes sociais faz com que eu chegue a uma conclusão:
- Não basta ser, há de parecer ser.
Se somos, não basta. Precisamos ser percebidos como tal. Muitas vezes caímos na armadilha de, na ânsia do "parecer ser", criar um personagem diferente do que somos. Aquém do que somos, além do que queríamos ser.
Eu ainda fico com a máxima de Nietzsche:
- Torna-te quem tu és.
- Não basta ser, há de parecer ser.
Se somos, não basta. Precisamos ser percebidos como tal. Muitas vezes caímos na armadilha de, na ânsia do "parecer ser", criar um personagem diferente do que somos. Aquém do que somos, além do que queríamos ser.
Eu ainda fico com a máxima de Nietzsche:
- Torna-te quem tu és.
domingo, 24 de fevereiro de 2013
72 - + BBB
Não sei o que pode ser pior. Participar uma vez do BBB ou participar DUAS vezes do BBB?
É a maior assinatura de fracasso que o cidadão pode dar. Participar duas vezes do BBB.
Imaginem convidar a Grazi Massafera, a Sabrina Sato ou o Jean Willy para voltar para o BBB.
Até o Kléber Bam-Bam rejeitou o BBB. O BBB é atraso de vida para o Kléber Bam-Bam. Para o Kléber Bam-Bam.
O BBB supostamente deveria ser o início de uma carreira. Como a maioria dos ex-bbb´s é medíocre e passa a viver a vida de "ser ex-bbb", voltar ao programa pode, observem o absurdo, dar um "up" na carreira do ex-bbb.
É a maior assinatura de fracasso que o cidadão pode dar. Participar duas vezes do BBB.
Imaginem convidar a Grazi Massafera, a Sabrina Sato ou o Jean Willy para voltar para o BBB.
Até o Kléber Bam-Bam rejeitou o BBB. O BBB é atraso de vida para o Kléber Bam-Bam. Para o Kléber Bam-Bam.
O BBB supostamente deveria ser o início de uma carreira. Como a maioria dos ex-bbb´s é medíocre e passa a viver a vida de "ser ex-bbb", voltar ao programa pode, observem o absurdo, dar um "up" na carreira do ex-bbb.
71 - Corinthianos Presos
Interessante esse caso dos corinthianos presos na Bolívia. Agora querem dar uma pernada nos bolivianos e apresentar um menor de idade como autor do disparo. Está cheirando a 171 brabo. Podemos ter uma crise diplomática.
Tem, no mínimo, o roteiro de um bom filme aí.
Tem, no mínimo, o roteiro de um bom filme aí.
70 Considerações BBB
Por acaso assisti um evento que me deixou com a chamada "vergonha alheia". Eram os Titãs tocando no BBB. De um constrangimento que dá até diarréia. Uns tiozinhos cantando "Bichos Escrotos" para meia dúzia de... bichos es... deixa pra lá.
Não há nada mais inofensivo, ou como diria Lobão, não há nada mais "brocha" do que 4 tiozinhhos cantando "eu não gosto de padre, eu não gosto de madre" para meia dúzia de idiotas no programa mais idiota da televisão brasileira.
No fim da apresentação, meio que tentando justificar o injustificável, o Sérgio Brito afirma:
-Em 15 anos de carreira foi a primeira vez que fizemos algo parecido com isso. Valeu!
Poderiam passar mais 15 anos sem essa. Vacilaram.
--
Esse programa é realmente para imbecis. Talvez "não-imbecis" assistam. Mas o público alvo são os imbecis.
--
Esse Eliéser é tão trouxa que é capaz de ganhar. É tão trouxa que passa por bobo. O Brasil gosta de um bobão.
--
O personagem "Bial -BBB" já é maior que o Pedro Bial. Bem feito.
--
O BBB beira a surrealidade. Um bando de idiotas debatendo a futilidade, orando sobre o nada. Chega a ser cômico. E tem muito de tragédia.
Não há nada mais inofensivo, ou como diria Lobão, não há nada mais "brocha" do que 4 tiozinhhos cantando "eu não gosto de padre, eu não gosto de madre" para meia dúzia de idiotas no programa mais idiota da televisão brasileira.
No fim da apresentação, meio que tentando justificar o injustificável, o Sérgio Brito afirma:
-Em 15 anos de carreira foi a primeira vez que fizemos algo parecido com isso. Valeu!
Poderiam passar mais 15 anos sem essa. Vacilaram.
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Esse programa é realmente para imbecis. Talvez "não-imbecis" assistam. Mas o público alvo são os imbecis.
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Esse Eliéser é tão trouxa que é capaz de ganhar. É tão trouxa que passa por bobo. O Brasil gosta de um bobão.
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O personagem "Bial -BBB" já é maior que o Pedro Bial. Bem feito.
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O BBB beira a surrealidade. Um bando de idiotas debatendo a futilidade, orando sobre o nada. Chega a ser cômico. E tem muito de tragédia.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
68 - Trago, deixo
Quando vou, uma parte fica
Não fica a mão, não ficam os dedos
Não ficam os braços, vão-se os pés
Não ficam pernas nem ficam olhos
Não ficam orelhas, trago a boca
Fica a vontade, fica o desejo
Fica o tesão
Fica o que não é carne do coração
Fica a inspiração, deixo o lembrar
Fica tudo que não se pode encostar
Fica você
67 - Saudade
Saudade de te ver
Saudade de te ter
Saudade do teu ser
Saudade de nós dois
Saudade de estar
Saudade de ficar
Saudade de beijar
Saudade do que éramos
Vontade do que seremos
Saudade de você
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
66 - Errado estou eu...
Enquanto a gente diz que ela é a razão de viver, ela está preocupada com os milímetros que sobram entre o cotovelo e a axila.
Culpa da televisão, culpa das capas das revistas.
Vendem um padrão inatingível, semeiam uma imagem que não existe, que não é humana. Um padrão de beleza que só é possível em meio a filtros, brushes e layers de um photoshop.
No meio da caminho, perdem o poder da interpretação. É oferecida uma poesia, preocupam-se com o papel. É oferecida uma música, preocupam-se com o violão. É oferecido um amor, preocupam-se com as amigas.
Mulheres, esqueçam os comerciais. A economia só existe por causa de vocês. Do jeito que são.
Culpa da televisão, culpa das capas das revistas.
Vendem um padrão inatingível, semeiam uma imagem que não existe, que não é humana. Um padrão de beleza que só é possível em meio a filtros, brushes e layers de um photoshop.
No meio da caminho, perdem o poder da interpretação. É oferecida uma poesia, preocupam-se com o papel. É oferecida uma música, preocupam-se com o violão. É oferecido um amor, preocupam-se com as amigas.
Mulheres, esqueçam os comerciais. A economia só existe por causa de vocês. Do jeito que são.
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